Como primeira postagem no meu portifólio no corrente ano, sinto necessidade de narrar um fato ocorrido na escola onde desenvolvo minhas atividades docentes.
Estava na sala dos professores e pude presenciar o diálogo entre professora titular da turma Y, equipe diretiva da escola e membros da APAE.
Justificava a professora que seu aluno “Bobi” deveria freqüentar classe especial, pois era surdo e não sendo usuário constante e fluente da língua escrita, não conseguia conviver socialmente, estava ficando marginalizado, apresentando dificuldade de comunicação com os colegas e com a própria, julgava-o menos capaz que os outros alunos.
O assunto continuava porem tocou o sinal e fui para a sala onde minha turma aguardava a por mim.
Seria justo o que estava sendo decidido? Ser surdo realmente significa ser menos capaz? “Bobi” por vários dias ocupou meu pensamento. Procurava uma forma de poder ajudá-lo sem que para isso fosse preciso separá-lo dos colegas, tendo que enfrentar um ambiente totalmente novo ou, quem sabe um atendimento paralelo poderia trazer melhores resultados.
Sabemos que a tentativa de fazer os surdos falar não apresentou grandes avanços, apesar de continuarmos insistindo em desenvolver neles a capacidade de compreender nossa língua oral e por ela se comunicar.
Baseada nos conhecimentos adquiridos na disciplina de LIBRAS, na vivência que tenho junto a uma sobrinha surda e ainda na experiência vivenciada quando alfabetizei uma aluna surda, não pude calar. Conversei com a titular da turma de “Bobi”, falei sobre a Língua Brasileira de Sinais, destacando que através dela seria possível desenvolver o centro cerebral da linguagem, ou seja, haveria possibilidades de desenvolvimento cognitivo, afetivo e emocional, tornando-o uma pessoa idêntica às ouvintes.
Continuaram as conversações e agora por decisão da professora, da direção, juntamente com especialistas da APAE, os pais de “Bobi” foram conscientizados de que tem um filho normal, inteligente e criativo, porem fala outra língua e que será encaminhado para acompanhamento junto a APAE.
Graças à sensibilidade da professora e o apoio dos pais e profissionais, “Bobi” aos 13 anos de idade entra em contato com a língua dos sinais. Com certeza encontrará dificuldades maiores em aprender, pois o instrumento cerebral da linguagem já foi afetado, mas é possível dentro de seu limite aprender alguma coisa. “Bobo” tem acompanhamento de especialista e no turno inverso freqüenta classe do ensino regular.
Na escola, os colegas se interessaram pela língua de sinais, a professora de LIBRAS oferece subsídios para a professora, como alfabeto, e “Bobi” vive uma vida normal junto a turma regular.
“De início se recusava a usar sinais, justificando que ninguém o entendia, mas hoje venceu o preconceito, se comunica” normalmente”, compreende, é compreendido e amado pelos colegas e professores e demonstra o desejo de se tornar médico.
Nesta minha intervenção e por que não dizer vitória, vejo o quanto aprendi na disciplina de LIBRAS e na minha experiência de 41 anos de magistério.
“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”. (Paulo Freire).