sábado, 30 de outubro de 2010

O Brasil está passando por uma fase decisiva na vida política. De um lado, “um “governante que dá o peixe”, do outro,” o que ensina a pescar. Nesta situação, me pasma ver a indecisão dos eleitores e reporto-me as séries iniciais e finais do Ensino Fundamental, questionando-me o modo como os professores encaravam a alfabetização e o poder que a leitura tem na vida destes cidadãos.
Sabemos que a imprensa não poupa espaço para levar ao ar, informações que esclarecem ou perturbam nossa mente. Cabe ao ser letrado discernir entre o que está sendo oferecido de forma convincente e a matéria que está tentando nos influenciar de maneira a nos confundir.
O processo de escolarização visa mais desenvolver habilidades cognitivas, motoras, que segundo meu pensamento visam constantemente desenvolver habilidades individuais e não práticas letradas, como as que ocorrem na família. Na escola, a criança é introduzida no mundo da escrita e posteriormente no da leitura, porem direcionado para o lado banal, ou seja, o uso constante do livro didático, com perguntas e respostas prontas e descontextualizadas.
O aluno aprende e convive na escola com habilidades relacionadas à necessidade cotidiana, como se alimentar, pegar o ônibus, fazer cálculos “mecânicos”, sem saber que multiplicando o fator aumenta e dividir significa repartir, que o legal é ter notas boas, mas que para isso não é necessário ler e estudar muito, que muitas vezes basta os pais terem uma “conversa” com professora e direção da escola, ou então “ ser o queridinho”, o aluno bonzinho, submisso, limpinho e que oferece rosas.
Seguindo essa linha de pensamento existe uma preocupação constante por parte de alguns professores com o analfabetismo, ou seja, com o ser não letrado, pois este é mistificado como responsável por muitos efeitos como a pobreza, a falta de emprego, a escolha de maus políticos, os fracassos, tendo como reflexo a escola que prima pela valorização de um sujeito alfabetizado que domina a escrita, deixando de formar cidadão crítico, comprometido, dinâmico e participativo, enfim pelo letramento social.
O sistema educacional apresenta inúmeras deficiências na formação de sujeitos plenamente letrados, isto em decorrência das falhas de um currículo que instrumentaliza o professor para o ensino, direcionado a um modelo autônomo, que encaminha o educando por caminhos previamente determinados em função de uma classe social, sem considerar sua inteligência ou potencialidade, quando esta deveria ser o ponto chave na educação.

3 comentários:

Nadie Christina disse...

Oi Delaine,

me parece que esta postagem é mais no sentido de desabafo diante de um momento importante onde a participação de cidadãos mais críticos se faz necessária.
É preciso ter o cuidado de associar as percepções e leitura de contexto com os conceitos e os autores que os definem. Alguns conceitos/autores ficam implícitos no teu texto, todavia é preciso destacá-los sob pena de refletir uma visão muito particular de uma realidade complexa.
Alguns autores contribuem para fundamentar argumentos como os que tu apresenta. Por exemplo: Paulo Freire, Magda Soares e Brian Street (modelos de letramento autônomo e ideológico).
Podes complementar a postagem trazendo os postulados destes ou de outros que consideres apropriados.
De qualquer forma, acho importante articular a teoria com a indignação e assim contribuir com uma reflexão bem crítica e fundamentada.
Um carinhoso abraço,
Profa. Nádie

Delaine disse...

Professora concordo que foi um desabafo, pois após trabalhar tanto, procurando mostrar a importância da leitura e do diálogo na vida do cidadão, o que vejo são pessoas apenas ”alfabetizadas” sem senso crítico, incapazes de interpretar, de opinar, de decidir.
Está evidente que a leitura é poderosa, que instrui, nutre o imaginário, ensina a olhar o mundo, conhecer pessoas de modo diferenciado, instrumentalisa a visão crítica e permite que cada um possa construir sua história e compreender a do outro. Fazendo minha postagem, quis citar o pouco valor que as escolas dão à leitura, deixando assim de formar cidadãos críticos e pensantes.
Percebe-se que o ato de ler é base essencial para a apreensão do conhecimento. Saber ler implica desvendar mistérios e compreender mundos, ultrapassar qualquer idéia de se querer mensurar ou de colocar limites de sentido.
Nunca é demais lembrar que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, tal como ensinou o mestre Paulo Freire (1922).

Nadie Christina disse...

Oi querida,

com certeza o letramento escolar se distancia do letramento social. Freire [1] argumenta que não estamos no mundo para a ele nos adaptar, mas para em alguma medida transforma-lo. Assim, de que forma pensas que seria possível transformar essa realidade?
Grande beijo,
Profa. Nádie

[1]FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: Cartas Pedagógicas e Outros Escritos. São Paulo: UNESP, 2000.